Pele e Psiquismo

Enviado em 21 d outubro d 2014, sob Bem-estar

Como o estado emocional pode afetar a pele

Hoje em dia, não há mais como negar a interação entre o corpo e a mente. O estado emocional é capaz de desencadear diversas manifestações orgânicas e, até mesmo, doenças.
Muitas vezes, diante de uma situação de forte estímulo emocional ou do estresse do dia a dia, mecanismos biológicos descarregam a tensão no corpo, que se manifesta em um órgão, que varia de acordo com uma tendência pessoal. Quando o órgão atingido é a pele, algumas doenças podem ser desencadeadas ou agravadas, entre elas: psoríase, disidrose, vitiligo, dermatite seborréica, dermatite atópica, lúpus e acne.

“Caso o tratamento via remédios e outras ações medicamentosas não esteja surtindo efeito ou resultados duradouros, a psicoterapia pode contribuir muito e oferecer possibilidades de cura mais eficazes. Atrelando medicamento (com acompanhamento de um médico dermatologista) junto às sessões de psicanálise é possível um bom resultado e uma melhor qualidade de vida. Já que a análise busca investigar quais as causas das tensões estarem sendo descarregadas no corpo” – explica Isabella Bovendorp, Psicanalista

Entenda melhor como funciona a interação entre a mente e a pele.

Dermatoses relacionadas ao transtorno obsessivo-compulsivo

Todas as pessoas sofrem de ansiedade em alguns momentos. Algumas estão ansiosas o tempo todo, porque se condicionaram a reagir ansiosamente aos fatos da vida, mesmo os mais comuns.

Para dar vazão à ansiedade e manter-se com algum equilíbrio, cada um desenvolve um tipo de mecanismo. Pode ser roer as unhas, lamber ou morder os lábios, esfregar as mãos, passar a mão nos cabelos, arrumar os óculos, coçar determinada área da pele.

Esses são recursos simples e alguns deles são transitórios. Muitas crianças roem as unhas em determinada fase e isso desaparece naturalmente depois.

Outros recursos são superados, quando começam a incomodar ou quando a pessoa se dá conta deles e decide cancelá-los, o que consegue fazer com algum esforço e determinação, algumas vezes substituindo-o por outro, menos incômodo ou que cause menos prejuízo à estética ou ao organismo.

Outras vezes, por pressões ansiogênicas mais intensas ou por inabilidade em enfrentar as tensões, algumas pessoas desenvolvem atitudes mais complexas, como comprar coisas sem necessidade, ingerir chocolate, comer sem estar com fome.

Esses escapes da ansiedade, se não forem controlados, podem transformar-se em atos obrigatórios, vinculados a certas situações geradoras de estresse. Então, a pessoa não consegue mais livrar-se deles, repetindo-os persistentemente de modo consciente, ainda que não queira fazê-los. São conhecidos de todos os tiques nervosos e as manias. São atitudes que ajudam a aliviar a tensão interna, embora se tornem desagradáveis e, às vezes, socialmente constrangedoras. Na sua origem há pensamentos que a pessoa aprendeu a interpretar como ameaçadores a sua estabilidade.

Obsessões e compulsões

Entretanto, certas pessoas desenvolvem um tipo de pensamento, de imagens ou de impulsos persistente, que desencadeia ansiedade. São pensamentos obsessivos, que se referem a qualquer fato real ou imaginário. Os mais comuns são sobre violência, contaminação, sexo, religião e perfeição do corpo.

As pessoas vitimadas por esses pensamentos torturantes são levadas a atos motores repetitivos, estereotipados e ritualísticos, que se sentem compelidas a realizar para reduzir o distresse e a ansiedade, como explicam Julia K. Warnock e Thelda Kestenbaum, dos departamentos de psiquiatria e de medicina interna da Faculdade de Medicina da Universidade de Oklahoma, em Tulsa (Dermatologic Clinics, julho de 1996).

São as compulsões, que aprisionam o indivíduo e ocupam seu tempo com atividade dispersiva e improdutiva, mas que são utilizados para tentar anular os pensamentos e reduzir o nível da ansiedade. As compulsões são inseparáveis das obsessões. Sempre que se observa uma compulsão é preciso buscar a obsessão da qual provém. A compulsão é o sintoma, a idéia obsessiva é a causa. Esse quadro é denominado transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e se constitui na quarta alteração mental mais comum, após fobias, abuso de drogas e depressão maior.

As pessoas afetadas por esse distúrbio possuem, como características de personalidade, perfeccionismo e tendência ao julgamento, necessidade de estar no controle, indecisão por medo de errar, inflexibilidade, consciência exacerbada sobre o trabalho, a moral e a ética, preocupação com pormenores, propensão a acumular coisas e ausência de contato com seus sentimentos, segundo Caroline Koblenzer, da Faculdadede Medicina da Universidade da Pensilvânia (International Journal of Dermatology, fev. 1993). Exemplo de TOC está no filme “Melhor Impossível”, com Jack Nicholson, cujo personagem tem rituais como evitar caminhar sobre emendas de calçadas, limpeza de talheres e verificação das fechaduras das portas.

O psiquiatra Daniel G. Amen, que trabalha com imageologia nuclear do cérebro, localiza a origem do TOC no aumento do fluxo sanguíneo do sistema do cíngulo, que é uma parte do cérebro que dá às pessoas a qualidade de flexibilidade e de mudança de foco. No TOC Juntamente com a alteração do cíngulo, há um aumento da atividade dos gânglios basais do cérebro, que controlam o funcionamento descontraído do corpo; essa atividade aumentada seria a responsável pelo estado de ansiedade, que caracteriza o TOC (Transforme Seu Cérebro, Transforme Sua Vida, Ed. Mercuryo).

Repercussões na pele

Muitas das compulsões do TOC têm como alvo a pele sob a forma de preocupações obsessivas. As mais comuns são queda de cabelos e conseqüente medo da calvície, impressão de fealdade ou de aparência desagradável, medo de contaminação por doenças infecciosas, preocupação com câncer de pele, sensação de estar infestado por parasitos, medo de SIDA/AIDS, rejeição a cicatrizes de acne.

Esses pensamentos geram tremenda ansiedade, que, para ser aliviada, é transformada em atos compulsivos. Assim, ocorrem ferimentos da pele por expressão de lesões de acne ou por sensação de coceira na pele acneica. É o quadro conhecido como acne escoriada.

Algumas pessoas têm a tensão desviada para alguma parte da pele, que tenha sofrido qualquer tipo de inflamação, como micose ou dermatite de contato. Esse local passa a ser, insensivelmente, o ponto de conversão das preocupações e tensões daí para a frente, sendo coçado e atritado automaticamente sempre que há aumento de tensão. Em conseqüência, a pele se engrossa e escurece e forma-se a alteração chamada neurodermite.

Outras vezes, a impressão de coceira é espalhada pela pele e o indivíduo não só coça como atrita e arranca partes da pele, formando feridas lineares ou circulares no quadro clínico das escoriações psicogênicas. Em outros, a tensão é dirigida para cabelos e pelos. Sempre que a pessoa necessita de concentração ou está estressada, passa a puxar e arrancar cabelos ou pêlos das sobrancelhas, às vezes os cílios, ou pêlos de qualquer outra parte da pele. É a chamada tricotilomania, de certo modo comum em crianças não só por motivos tensionais como também por distração. Há crianças que, para dormir, ficam enrolando o cabelo de determinada parte da cabeça. Com o tempo, esse movimento ou arranca os cabelos ou os enfraquece, o que tem o mesmo resultado. Surge uma clareira no meio dos cabelos, que pode atigir uma grande área, simulando até uma calva.

Mais comum, principalmente na infância, é a roeção de unhas ouonicotilomania. Geralmente, isso cessa ainda na infância. Outras vezes, prossegue pela vida em fora, causando muito desprazer à pessoa, que, apesar de seu desagrado pelo resultado do ato, não consegue se livrar dessa compulsão, porque ela é a maneira aprendida de aliviar as tensões.

Freqüente, hoje em dia, por causa do padrão de beleza imposto pelos meios de comunicação, é o distúrbio dismórfico corporal, que é a preocupação obsessiva com a aparência do corpo ou de determinada parte do corpo. Cabelos finos ou encaracolados ou lisos, nariz afilado, grande, pequeno ou adunco, brancura da pele e mania de obter cor bronzeada, excesso ou deficiência de peso, pernas finas ou grossas, pés e mãos grandes, aspecto dos órgãos genitais, tudo pode ser objeto de idéias obsessivas. Este problema leva as pessoas a isolamento e, muitas vezes, a ficar sem ajuda médica por desinteresse de dermatologistas, cirurgiões plásticos ou psiquiatras.

Pode ocorrer também a idéia de exalar odor repugnante, o que leva o indivíduo a banhar-se várias vezes por dia. Ocorre muito dermatite por ressecamento e irritação das mãos por lavagens repetidas, motivadas pela idéia de livrar-se de micróbios, que contaminam as mãos ao contato com qualquer coisa ou pessoa.

Existem comportamentos auto-agressivos, que terminam na provocação de lesões graves na pele, ainda que sem intenção de matar-se. Em outros casos, as lesões causadas são de menor intensidade, como as observadas em pessoas que mordem e arrancam a semimucosa dos lábios ou que atritam repetidamente alguma unha e geram o aspecto da distrofia mediana da unha.

Os atos compulsivos abrangem uma variedade muito grande e de diversas intensidades. Praticamente todas as pessoas têm pelo menos algum traço de obsessividade-compulsividade, não obrigatoriamente dirigido contra a pele. Basta lembrar que a necessidade imperiosa de comprar coisas, distúrbios alimentares, fixação em doenças e dores crônicas, exibicionismo, cleptomania, ciúmes doentios, tendência a oposição sistemática, verificação repetida de janelas e portas antes de dormir, colocação de coisas em ordem específica, ligar a televisão assim que entra em casa, mesmo que não vá assistir a nenhum programa, e muitos outros atos que as pessoas se sentem compelidas a realizar são manifestações do espectro obsessivo-compulsivo.

Tratamento

O tratamento de dermatoses relacionadas ao TOC exige duas intervenções: 1) a medicamentosa, na qual são utilizadas substâncias que vão regularizar os sistemas do cíngulo e dos gânglios basais; 2) a psicoterapêutica, na qual a pessoa vai aprender a dominar pensamentos insistentes, a superar os medos e a treinar o cérebro em nova maneira de funcionar por mudanças comportamentais.

Colaboração: Dr. Roberto Azambuja – Dermatologista

Fonte: Dermatologia.net

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